sexta-feira, 30 de novembro de 2007

RESTAURAÇÃo Da LEITURa & Da PRÓPRIa VIDa


À LEITURA
A VIVER ! . . . . .

Em hino á vida, ao sentir, sensitiva e inteligivelmente, como de resto esperamos por entre todo o sempre…

Apresentamos o Programa dos mergulhos em_livrados e ou literários… ao tom de um livromente
navegantes de um mar alto dos livros:

A G O R A »»»»
DIA 13 DE DEZEMBRO [21.00] – VISIONAMENTO
DO FILME «SEM DESTINO»
+ CONVERSAÇÃO FINAL (?!?)
Em torno da LOLITA [NABOKOV/KUBRICK]
***NA FÁBRICA DO BRAÇO DE PRATA (VER MENSAGENAS ANTIGAS NESTE BLOGUE-MUNDI-SEU)***

§ Aqui ficam alguns excertos do livro que banhará a sessão de 20 de Dezembro, de Kertész, depois das imagens cinematográfico-vivêncialíssimas que o autor iluminou»»»

**Todos lhe deram passagem. A seguir, alguns também me abraçaram, e eu senti no rosto as marcas pegajosas dos seus lábios. Por fim, fez-se um silêncio súbito, todos tinham partido.
E eu despedi-me também do meu pai. Ou, antes, ele de mim. Nem sei. Nem me recordo exactamente da situação: o meu pai devia ter ido acompanhar as visitas à saída, pois, durante um bocado, fiquei sozinho à mesa com os restos do jantar e sobressaltei-me quando voltou. Estava sozinho. Queria despedir-se de mim.


**E só então compreendi que o amor-próprio é um sentimento que, manifestamente, nos acompanha até aos últimos instantes, porquanto, ainda eu me importunasse com esta incerteza, não dirigi sequer uma pergunta, nem oração, nem uma só palavra, não lancei o menor olhar para trás ou sobre os que puxavam. Foi então que a estrada chegou a uma curva elevada, e, de súbito, um vasto panorama se ofereceu aos meus olhos, em baixo. Estava ali a copada paisagem que tapetava todo um declive, as casas de pedra idênticas, as lindas barracas verdes, e outras, novas, decerto, formando um grupo separado, talvez mais severas e ainda não pintadas, a rede sinuosa, mas visivelmente ordenada, das vedações interiores de arame farpado que separavam as diferentes zonas, e, um pouco mais longe, afogada na bruma, a massa das árvores por agora sem folhas. Não sei o que esperavam lá em baixo, junto de um edifício, todos esses seres muçulmanos nus; havia dignitários que caminhavam para a frente e para trás; e, se via bem, mas sim, reconheci-os imediatamente pelos seus mochos e gestos rápidos: os barbeiros - assim, pois, esperavam, estava bom de ver, o duche e a admissão no campo. Mas, lá mais no interior, as longínquas ruas pavimentadas do campo estavam cheias de animação, apressavam-se, caminhavam frouxamente, passava-se o tempo - autóctones, doentes, dignitários, fiéis de armazém, felizes eleitos das equipas laborando no interior iam e vinham, cumpriam as suas tarefas diárias. Aqui e ali, fumos suspeitos misturavam-se aos vapores delicados, um estalido familiar subiu lentamente até mim, como o som dos sinos em sonhos, e o meu olhar esquadrinhador caiu sobre o cortejo dos que transportavam barras aos ombros, que abatiam sob o peso dos caldeirões fumegantes delas suspensos,e, devido ao seu cheiro acre, reconeci de longe, sem sombra de dúvida, a sopa de nabiça. Era pena, porque este espectáculo, este cheiro, fizeram nascer no meu peito - já, contudo, rígido - um sentimento cujas vagas crescentes conseguiram empurrar algumas gotas mais quentes dos meus olhos entretanto secos na humidade fria que banhava o rosto. E, mau grado a reflexão, a razão, o discernimento, o bom senso, eu não podia desconhecer a voz de uma espécie de desejo surdo, que se tinha insinuadao em mim, como envergonhada de ser tão insensata, e, todavia, cada vez mais obstinada; eu gostaria de viver um pouco mais neste belo campo de concentração.

(...a continuar)

In Sem Destino {Editorial Presença}, IMRE KERTÉSZ


»*» Imre Kertész (Budapeste, 9 de Novembro de 1929) é um escritor húngaro de religião judaica, razão que o leva a ser deportado para Auschwitz e Buchenwald, sendo libertado em 1945 - é um sobrevivente do Holocausto. No regresso a Budapeste começa a trabalhar como jornalista e, mais tarde, como tradutor. Recebeu inúmeros prémios ao longo da sua carreira literária, entre eles destacamos o mais importante de todos: o Prémio Nobel da Literatura de 2002 …"por escrita que confirma a frágil experiência do indivíduo face à arbitrariedade bárbara da história".
A obra mais bem conhecida de Kertész, Sem destino (Sorstalanság) descreve a experiência de um rapaz de quinze anos nos campos de concentração de
Auschwitz-Birkenau, Buchenwald e Zeitz. Foi interpretado por alguns comentadores como quase-autobiográfico, mas o autor desmente uma forte ligação à sua própria biografia.
A partir de Sem destino foi rodado um filme na
Hungria em 2005 com o mesmo título que irá ser exibido em vários países nos próximos meses.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

a benção da arte...de imagem e contracenações beijadas...


Kubrick viajou-nos até altas horas do início do final de noite de 15 neste luminoso novembro, por entre ondulantes marés de transe-e-corneta-trompete-voz e luz, através de um Lolita Nabokoviano adaptado a um cinema que o nosso olhar inega e assume glória e explendor. Frases curtas plenas de expressão humana, do espaço e religiosos silêncios ambíguos... Actores sem atributos e remissivas, bombasticamente mega-trans-plurióptimos. Planos "haze", surreais ou estupidamente naturais (como Humbert na banheira enquanto 4 personagens lhe vêm dar os pêsamos pela morte de Haze sua última esposa). Perdi a gargalhada crucial e emblemática para o entendimento de "Lolita" no filme... mas não um "fogo" e toque de génio aquando do engendramento feliz de um universo que inicia no final, quadro que liga tão magnificamente Quilty a Humbert, ambos escritores interessantes e repletos de invisibilidades e adivinhações em volta (?), numa duplicidade que reporta ao livro L. - um marco universal inolvidável na história da escrita ficcionada de tempos e tempos ... atravessando futurismos de eternitudes e mais ...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

COMUNIDADE Á SOLTA ** LEITURA PARA TODOS

QUINTA-FEIRA DIA 8 DE NOVEMBRO ÁS 21 HORAS ABRACE PROFUNDAMENTE A LEITURA NUMA SESSÃO INÉDITA COM A COMUNIDADE DE LEITORES «O CINEMA NÃO FILMA LIVROS» ORIENTADA POR MARIA DA CONCEIÇÃO CALEIRO. PRECISA SÓ DE SABER QUAIS AS OBRAS - LOLITA (Teorema) e OPINIÕES FORTES (Assírio & Alvim) DE V. NABOKOV - A PARTILHAR, A DESBRAVAR ...

AS OBRAS PODE ENCONTRÁ-LAS NA FÁBRICA DO BRAÇO DE PRATA, LOCAL ONDE DECORRERÁ A COMUNIDADE DE LEITORES - CNFL.





Inspire-se no mergulho à imagem que lhe mostra o livro que a vida lhe oferece... a cada instante... a cada passo... a cada desvendável coragem na palavra, nos sentidos...
Viver transcende qualquer entendimento... (Clarisse Lispector)


{{Para saber mais e melhor àcerca da Comunidade de Leitores leia a mensagem anterior deste mesmo universo/ blogue inominavelmente seu ...}}

domingo, 4 de novembro de 2007


Por vezes (momento divino!) irrompe o real filmado à sua revelia: uma multidão ao acaso, uma explosão de àgua, o murmúrio que mal se ouve mas bem visível de uma árvore.
NABOKOV

sábado, 3 de novembro de 2007

L O - L E E - T A

Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul.
Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta.
She was Lo, plain Lo, in the morning, standing four feet ten in one sock. She was Lola in slacks. She was Dolly at school. She was Dolores on the dotted line. But in my arms she was always Lolita.
Did she have a precursor? She did, indeed she did. In point of fact, there might have been no Lolita at all had I not loved, one summer, a certain initial girl-child. In a princedom by the sea. Oh when? About as many years before Lolita was born as my age was that summer. You can always count on a murderer for a fancy prose style.
Ladies and gentlemen of the jury, exhibit number one is what the seraphs, the misinformed, simple, noble-winged seraphs, envied. Look at this tangle of thorns.

Lolita from Nabokov