segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

ILUMINURAS DO LER Y DO CONTAR

NINGUÉM TESTEMUNHA PELA TESTEMUNHA
Paul Celan























**** Pedimos, antes de tudo, as desculpas a todas as pessoas-seres-leitores que se deslocaram a fim de partilhar-participar n(um)a suposta quarto encontro até á Fábrica do Braço de Prata - universo-fascínio onde até então têm decorrido as já passadas 3 sessões- do Cinema não filma livros- Comunidade de leitores -'diz que é 1 espécie de coisa bem porreirita e no mínimo surpreendente' - pela extensão em bastantes sentidos, pelo grupo, pela dinamizadora e activista.activante.yluminosa... e por tudo + qualquer coisita... as "escusas" por não ter podido acontecer esse meet.




Ainda... nesta época de euforia, o espaço para as leituras transborda-se para outros tempos...
OS ENCONTROS DE LEITOR E MAR INCANDESCENTE DAS LEITURAS SERÃO EM JANEIRO»»»


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“Contar bem, isso quer dizer: de maneira a ser entendido. Não chegaremos lá sem um pouco de artifício. Artifício suficiente para que isso se transforme em arte”
Jorge Semprun



“Para descrever o extremo, o escritor não se pode satisfazer com os instrumentos do realismo que o conduzem invariavelmente a um hiperbolismo suspeito”
Yves Stalloni

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DIA 10 DE JANEIRO 2008
Fábrica do Braço de Prata
Beato, Lisboa
(ver posts anteriores para +)
Sala Visconti»»21horas» Passenger (Pasazerka), de Andrzej Munk;
Sem Destino, de Lajos Koltai

&

DIA 17 DE JANEIRO 2008
Fábrica do Braço de Prata
Beato, Lisboa
(ver posts anteriores para +)
Sala Visconti ou..»»21horas»
Sem Destino, de Imre Kertész
(e talvez outras leituras que tragam)

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... Para si nesta quase Transição única aos olhos nossos de um corpo espírito em 2007/2008... mais 1 surpresa (e para mais passagens e quadros-imagens do Sem Destino veja as mensagens anteriores do C*N*F*L - Cinema não filma livros) ==========

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«(...) E, depois, o erro do costume: era como se estes acontecimentos que já se diluíam, que pareciam verdadeiramente inimagináveis e que, parecia-me, eles não podiam reconstituir integralmente, tivessem ocorrido seguindo, não o curso normal dos minutos, das horas, dos dias, das semanas e dos meses, mas, por assm dizer, todos ao mesmo tempo, numa espécie de turbilhão, de vertigem única, uma espécie de reunião da tarde, digamos, transformada subitamente em confusão, onde, de súbito, os numerosos participantes perdem a razão todos ao mesmo tempo, por um motivo incompreensível, e já não sabem talvez o que fazem. A certa altura, calaram-se; depois, passado um breve instante, o velho Fleischmann colocou-me de súbito esta questão: - E quais são os teus projectos para o futuro? - Surpreendeu-me um pouco e disse-lhe que ainda não tinha pensado nisso. Então, o outro velho fez um movimento, inclinando-se para mim na cadeira. O morcego elevou-se e pôs-se no meu joelho, em vez do braço. - Antes de mais - disse ele -, deves esquecer essas atrocidades. - Perguntei: - porquê? - cada vez mais surpreendido. - Para - respondeu - poderes viver - e o senhor Fleischmann abanava a cabeça, acrescentando: - Viver livre - sobre o que, o outro velho acenava a acabeça e acrescentou, por seu lado: - Com um fardo desses, não se pode começar uma vida nova - e havia ali alguma verdade, reconhecia. Salvo que eu não compreendia bem porque queriam eles uma coisa impossível, e fiz-lhes ver que o que tinha acontecido acontecera e que, finalmente, eu não podia dar ordens à minha memória. Eu não poderia começar uma vida nova - considerava - sem nascer de novo, ou só se um acidente, uma doença ou qualquer coisa afectasse a minha consciência, e esperava que não fosse isso o que me desejavam. -Aliás - acrescentei -, não reparei que eram atrocidades - e, então, notei que tinham ficado muito surpreendidos. Eles queriam saber o que é que eu entendia ao dizer que "não tinha reparado". E, aí, perguntei-lhes, por seu lado, o que tinham eles feito durante esses "tempos difíceis". - Pois... vivemos - disse um, pensativo. - Tentámos sobreviver - acrescentou o outro. E, portanto,: também eles tinham avançado passo a apasso, observei. Não compreendiam o que eu queria dizer com "avançar passo a passo", e contei-lhes, então, como isso acontecia, por exemplo, em Auschwitz. (...)»


**DESEJOS DE 1 FUTURO LUMINOSO****












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Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?

Fernando Pessoa,
Álvaro de Campos
[Turismo Infinito- sequência 1]

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

RESTAURAÇÃo Da LEITURa & Da PRÓPRIa VIDa


À LEITURA
A VIVER ! . . . . .

Em hino á vida, ao sentir, sensitiva e inteligivelmente, como de resto esperamos por entre todo o sempre…

Apresentamos o Programa dos mergulhos em_livrados e ou literários… ao tom de um livromente
navegantes de um mar alto dos livros:

A G O R A »»»»
DIA 13 DE DEZEMBRO [21.00] – VISIONAMENTO
DO FILME «SEM DESTINO»
+ CONVERSAÇÃO FINAL (?!?)
Em torno da LOLITA [NABOKOV/KUBRICK]
***NA FÁBRICA DO BRAÇO DE PRATA (VER MENSAGENAS ANTIGAS NESTE BLOGUE-MUNDI-SEU)***

§ Aqui ficam alguns excertos do livro que banhará a sessão de 20 de Dezembro, de Kertész, depois das imagens cinematográfico-vivêncialíssimas que o autor iluminou»»»

**Todos lhe deram passagem. A seguir, alguns também me abraçaram, e eu senti no rosto as marcas pegajosas dos seus lábios. Por fim, fez-se um silêncio súbito, todos tinham partido.
E eu despedi-me também do meu pai. Ou, antes, ele de mim. Nem sei. Nem me recordo exactamente da situação: o meu pai devia ter ido acompanhar as visitas à saída, pois, durante um bocado, fiquei sozinho à mesa com os restos do jantar e sobressaltei-me quando voltou. Estava sozinho. Queria despedir-se de mim.


**E só então compreendi que o amor-próprio é um sentimento que, manifestamente, nos acompanha até aos últimos instantes, porquanto, ainda eu me importunasse com esta incerteza, não dirigi sequer uma pergunta, nem oração, nem uma só palavra, não lancei o menor olhar para trás ou sobre os que puxavam. Foi então que a estrada chegou a uma curva elevada, e, de súbito, um vasto panorama se ofereceu aos meus olhos, em baixo. Estava ali a copada paisagem que tapetava todo um declive, as casas de pedra idênticas, as lindas barracas verdes, e outras, novas, decerto, formando um grupo separado, talvez mais severas e ainda não pintadas, a rede sinuosa, mas visivelmente ordenada, das vedações interiores de arame farpado que separavam as diferentes zonas, e, um pouco mais longe, afogada na bruma, a massa das árvores por agora sem folhas. Não sei o que esperavam lá em baixo, junto de um edifício, todos esses seres muçulmanos nus; havia dignitários que caminhavam para a frente e para trás; e, se via bem, mas sim, reconheci-os imediatamente pelos seus mochos e gestos rápidos: os barbeiros - assim, pois, esperavam, estava bom de ver, o duche e a admissão no campo. Mas, lá mais no interior, as longínquas ruas pavimentadas do campo estavam cheias de animação, apressavam-se, caminhavam frouxamente, passava-se o tempo - autóctones, doentes, dignitários, fiéis de armazém, felizes eleitos das equipas laborando no interior iam e vinham, cumpriam as suas tarefas diárias. Aqui e ali, fumos suspeitos misturavam-se aos vapores delicados, um estalido familiar subiu lentamente até mim, como o som dos sinos em sonhos, e o meu olhar esquadrinhador caiu sobre o cortejo dos que transportavam barras aos ombros, que abatiam sob o peso dos caldeirões fumegantes delas suspensos,e, devido ao seu cheiro acre, reconeci de longe, sem sombra de dúvida, a sopa de nabiça. Era pena, porque este espectáculo, este cheiro, fizeram nascer no meu peito - já, contudo, rígido - um sentimento cujas vagas crescentes conseguiram empurrar algumas gotas mais quentes dos meus olhos entretanto secos na humidade fria que banhava o rosto. E, mau grado a reflexão, a razão, o discernimento, o bom senso, eu não podia desconhecer a voz de uma espécie de desejo surdo, que se tinha insinuadao em mim, como envergonhada de ser tão insensata, e, todavia, cada vez mais obstinada; eu gostaria de viver um pouco mais neste belo campo de concentração.

(...a continuar)

In Sem Destino {Editorial Presença}, IMRE KERTÉSZ


»*» Imre Kertész (Budapeste, 9 de Novembro de 1929) é um escritor húngaro de religião judaica, razão que o leva a ser deportado para Auschwitz e Buchenwald, sendo libertado em 1945 - é um sobrevivente do Holocausto. No regresso a Budapeste começa a trabalhar como jornalista e, mais tarde, como tradutor. Recebeu inúmeros prémios ao longo da sua carreira literária, entre eles destacamos o mais importante de todos: o Prémio Nobel da Literatura de 2002 …"por escrita que confirma a frágil experiência do indivíduo face à arbitrariedade bárbara da história".
A obra mais bem conhecida de Kertész, Sem destino (Sorstalanság) descreve a experiência de um rapaz de quinze anos nos campos de concentração de
Auschwitz-Birkenau, Buchenwald e Zeitz. Foi interpretado por alguns comentadores como quase-autobiográfico, mas o autor desmente uma forte ligação à sua própria biografia.
A partir de Sem destino foi rodado um filme na
Hungria em 2005 com o mesmo título que irá ser exibido em vários países nos próximos meses.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

a benção da arte...de imagem e contracenações beijadas...


Kubrick viajou-nos até altas horas do início do final de noite de 15 neste luminoso novembro, por entre ondulantes marés de transe-e-corneta-trompete-voz e luz, através de um Lolita Nabokoviano adaptado a um cinema que o nosso olhar inega e assume glória e explendor. Frases curtas plenas de expressão humana, do espaço e religiosos silêncios ambíguos... Actores sem atributos e remissivas, bombasticamente mega-trans-plurióptimos. Planos "haze", surreais ou estupidamente naturais (como Humbert na banheira enquanto 4 personagens lhe vêm dar os pêsamos pela morte de Haze sua última esposa). Perdi a gargalhada crucial e emblemática para o entendimento de "Lolita" no filme... mas não um "fogo" e toque de génio aquando do engendramento feliz de um universo que inicia no final, quadro que liga tão magnificamente Quilty a Humbert, ambos escritores interessantes e repletos de invisibilidades e adivinhações em volta (?), numa duplicidade que reporta ao livro L. - um marco universal inolvidável na história da escrita ficcionada de tempos e tempos ... atravessando futurismos de eternitudes e mais ...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

COMUNIDADE Á SOLTA ** LEITURA PARA TODOS

QUINTA-FEIRA DIA 8 DE NOVEMBRO ÁS 21 HORAS ABRACE PROFUNDAMENTE A LEITURA NUMA SESSÃO INÉDITA COM A COMUNIDADE DE LEITORES «O CINEMA NÃO FILMA LIVROS» ORIENTADA POR MARIA DA CONCEIÇÃO CALEIRO. PRECISA SÓ DE SABER QUAIS AS OBRAS - LOLITA (Teorema) e OPINIÕES FORTES (Assírio & Alvim) DE V. NABOKOV - A PARTILHAR, A DESBRAVAR ...

AS OBRAS PODE ENCONTRÁ-LAS NA FÁBRICA DO BRAÇO DE PRATA, LOCAL ONDE DECORRERÁ A COMUNIDADE DE LEITORES - CNFL.





Inspire-se no mergulho à imagem que lhe mostra o livro que a vida lhe oferece... a cada instante... a cada passo... a cada desvendável coragem na palavra, nos sentidos...
Viver transcende qualquer entendimento... (Clarisse Lispector)


{{Para saber mais e melhor àcerca da Comunidade de Leitores leia a mensagem anterior deste mesmo universo/ blogue inominavelmente seu ...}}

domingo, 4 de novembro de 2007


Por vezes (momento divino!) irrompe o real filmado à sua revelia: uma multidão ao acaso, uma explosão de àgua, o murmúrio que mal se ouve mas bem visível de uma árvore.
NABOKOV

sábado, 3 de novembro de 2007

L O - L E E - T A

Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul.
Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta.
She was Lo, plain Lo, in the morning, standing four feet ten in one sock. She was Lola in slacks. She was Dolly at school. She was Dolores on the dotted line. But in my arms she was always Lolita.
Did she have a precursor? She did, indeed she did. In point of fact, there might have been no Lolita at all had I not loved, one summer, a certain initial girl-child. In a princedom by the sea. Oh when? About as many years before Lolita was born as my age was that summer. You can always count on a murderer for a fancy prose style.
Ladies and gentlemen of the jury, exhibit number one is what the seraphs, the misinformed, simple, noble-winged seraphs, envied. Look at this tangle of thorns.

Lolita from Nabokov

domingo, 28 de outubro de 2007

O LIVRO QUE SOMOS . . . IMAGENS E PALAVRAS TRAZIDAS NO CORAÇÃO . . .



Este é um Universo para Almas onde o Livro Repousa,

a Paisagem Ressuscita e o

CINEMA (QUE) NÃO FILMA LIVROS Encena Vidas...





... Comunidade de Leitores dinamizada por Maria da Conceição Caleiro que deu de novo ar da sua imensa graça e 'enjardinada' de lua cheia no dia 25 de Outubro de 2007, na Fábrica do Braço de Prata - novo espaço com salas várias, actividades, espectáculos, performances e exposições, local onde se reunem as Livrarias Ler Devagar e (a) Eterno Retorno [R. Fernando Palha, n.º 26, junto ao Poço do Bispo, Lisboa; entrada pelo portão lateral]. A participação é livre e começa desde já! A Comunidade organiza-se em sete sessões ás segundas e terceiras quintas-feiras de cada mês, às 21 horas. Na primeira sessão mensal terá lugar a discussão sobre o livro, e na segunda é projectado o filme, havendo uma conversa com os participantes. Esta é uma iniciativa da Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas.

A selecção do programa está feita e o ambiente do primeiríssimo encontro tocou universos como... livros e mundos que não podemos deixar de ler antes de morrer...


O programa apresenta-se...

1.ªs Sessões) Lolita e Opiniões Fortes de V.Nabokov/ Lolita de Kubrick;











3.ªs Sessões)
India Song de Marguerite Duras;











2.ªs Sessões)
Sem Destino de Imre Kertesz/ Sem Destino de Lajos Koltai;










4.ªs Sessões)
Contos de Guimarães Rosa/ Contos de Guimarães Rosa de José Miguel Wisnik;









5.ªs Sessões)
Todas as Manhãs do Mundo de Pascal Quignard/ Todas as Manhãs do Mundo de Alain Corneau;









6.ªs Sessões)
O Delfim de José Cardoso Pires/ O Delfim de Fernando Lopes;








7.ªs Sessões)
A Costa dos Murmúrios de Lídia Jorge/ A Costa dos Murmúrios de Margarida Cardoso.










Nas palavras da dinamizadora...
trata-se de pôr em comum experiências de livros e filmes, orientada mas viva. Vibrátil, isto é, imagens e palavras trazidas no coração (par coeur). Leitura partilhada, reflexão e debate sobre livros, filmes, inquietações neles despertadas, autores que marcam ainda a contemporaneidade. Apresentação de filmes cúmplices dessas mesmas obras, ou com elas tecidos. Cruzamento de campos. De maneiras de percepção. Filmes seleccionados tendo em conta a premência própria do seu modo particular de expressão - mais valia, ou assunção de uma diferença, face ao livro, ao seu ponto de partida reescrito.