Não te esqueças de mim, dizem os homens uns aos outros,
afastando-se
Casimiro de Brito
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JORGE LUÍS BORGES
Não é tão conhecido nesse particular, mas Borges é também um EXcelentíssimo poeta.
Dois exemplos de como se pode iluminar de um outro ângulo bocados da cidade que só servem para inventários obscuros; locais que nem os mais astutos taxistas conhecem.
Olhemos para os caminhos:
"...nos próprios becos havia céu que chegasse para a felicidade"
Para os armazéns:
"e os armazéns eram meigos nas esquinas como se esperassem por um anjo."
Estes são versos de um poema chamado "Elegia dos portões".
Depois destes versos olhamos para os pormenores,
degradados ou não, pormenores escondidos, e quase nos é feita a exigência moral: leva para o centro o que está escondido; mostra que a perna esquerda da leitura é uma bela perna esquerda se para ela olhares com a atenção certa
e a descreveres com um vocabulário distinto do habitual.
Frases raras tornam altivo o que parecia medíocre. Eis a tarefa do bom observador, utilizando apenas a língua e os olhos.
Estamos perante versos que urbanizam de novo a cidade, e esta é uma tarefa fundamental da escrita: elevar o que é baixo, amedrontar o que é forte e alto.
«o dia era maior nos teus caminhos
que nas ruas do centro
porque nos teus buracos se aninhava o céu.
Jorge Luís Borges nasceu em 24 de Agosto de 1899 em
Buenos Aires. Buenos Aires é a cidade de Borges,
Borges é a cidade de Buenos Aires. Uma cidade e outra merecem ser visitadas.
São duas leituras diferentes, mas duas leituras. O leitor, depois de as ler -
às 'cidades' Buenos Aires e Borges - olhará de modo diferente
para a sua cidade natal. Regressamos com outra música, com outro ritmo
de observação.
Torna-te mais lento a olhar para as coisas
e olha para as coisas que são lentas.
Eis dois conselhos que dou a mim próprio.»
Gonçalo M. Tavares, Revista 30 Dias - Fevereiro(Concelho de Oeiras)